1. Aquele zumbido no pavilhão auditivo das autoridades é jornalismo-mosca, que invade os registros públicos pelas frestas oficiais e ricocheteia nas gavetas, drives, armários e dropboxes da vida.
2. Oras! Não pergunte o que a crise da imprensa pode fazer por você, mas o que você pode fazer para agravar a crise da imprensa!
3. E vamos dar a contribuição dos mosquitos chatos, pousados nos paletós das cadeiras de escritório. Jornalismo-mosca que caminha pelos retratos oficiais na parede, sobre os documentos recém-assinados, sorrateiro nos porta-malas da frota chapa branca.
4. Já disseram que tradição não é o culto das cinzas, mas a preservação do fogo – e jornalismo-mosca é uma brasa, mora?
5. Buscamos aquela fila formada pelos avacalhadores da paz oficiosa, macilenta e enganadora. “[Atenas] é como um cavalo de raça, vistoso, mas lerdo, e é preciso uma mosca que o pique e o desperte; eu sou essa mosca. Pois os deuses me colocaram aqui com a incumbência de espevitá-los, despertá-los, persuadi-los e repreendê-los um por um”, disse Sócrates, em 399 a.C. Varejeiro, esse grego.
6. Loas também à memória do imperador chinês Tang Taizong (627-649 d.C.), o primeiro gestor público de que se tem notícia a tornar públicos atos de seu governo – incompreendido até hoje, coitado.
7. Saravá, Izzy Stone, que mesmo perseguido pelos macartistas, nos EUA dos anos 1950, e por isso barrado na grande imprensa, seguiu o exemplo de George Seldes e embarcou no jornalismo independente – imprimindo seus próprios boletins e os amarrotando com dados públicos.
8. A Lillian Ross, que definiu seu trabalho de repórter como “a mosca na parede”, aquela que ninguém nota, mas que está lá, vendo tudo.
9. A Teresa Urban, mosca silvestre que conhecia muito mais que as florestas e que no trato rigoroso das informações criou jornais que imprimiam o que poucos conseguiam ver.
10. Aos mosquitos insones, aos punks e seus zines, à contracultura, à mídia radical, aos movimentos de contestação das ordens, fracassados ou vencedores nas suas causas.
11. Às moscas? Sim, as moscas.
12. Às moscas que chafurdam no lixo, como bem definiu nossa vocação o ex-ministro Joaquim Barbosa, poderoso no Supremo Tribunal Federal e avesso a jornalistas.
13. E isto não é um manifesto. Se for, é manifesto-mosca, que não adianta vir dedetizar, porque você dispensa uma e já vem outra no lugar. É o manifesto desse zumbido.
14. Amém, Raulzito, o mosquito beleza que pousou na sopa da cultura brasileira. E dali não sai, ninguém tira. Pintou para nos abusar.
15. Jornalismo-mosca que perde o leitor, e a piada, se disso precisar.
16. Quem tem medo de hashtags? Do futuro? #Somostodoshumanasmoscas, não somos, Lux Interior? Escória, Spider Jerusalém? FOIA terrorists, Jason Leopold? Personagens na inconsciência coletiva da internet.
17. Fluxo de linguagem e redação jornalística.
18. Abraji, Contas Abertas, Transparência Brasil, Fórum de Direito de Acesso às Informações Públicas – vocês moram no nosso coração composto de mosca.
19. Diante do tribunal que são os nossos dias, admitimos que a imprensa blá blá blá, que o negócio da informação blé blé blé, o raio que nos parta bló bló bló bló.
20. No entanto, o jornalismo se move.
EQUIPE LIVRE.JOR,
Dia do jornalista, 7 de abril de 2016.