Solidariedade é tudo o que podemos – e fazemos questão de – entregar aos cinco profissionais da Gazeta do Povo que são alvo de (até agora) 48 processos movidos por magistrados do Paraná em dezenas de cidades do estado.

É absurdo, kafkiano, ver colegas processados por uma reportagem precisa, fruto de apuração longa e rigorosa, livre de quaisquer erros. Na verdade, o que se fez no material jornalístico foi apresentar de forma clara e compreensível os dados sobre subsídios e benefícios que o Tribunal de Justiça divulga de forma intrincada, em desacordo com o que diz a Lei de Acesso à Informação.

 O drama pessoal dos profissionais tem sido mostrado por diversos veículos de imprensa do Brasil. Só que há, além disso, outras consequências desta ação dos magistrados que precisam ser apontadas.  A que mais nos toca é a autocensura que este tipo de atitude incute no fazer jornalístico.

Somos o Livre.jor, oras! Se essa agressão estivesse vindo de qualquer outro Poder Público nossa reação seria revidar a opacidade com doses ainda maiores de transparência. É legal, é esperado de nós e é função básica do Jornalismo. E fizemos o quê? Nada.

Neste absurdo, o que poderíamos fazer, além de deixar clara nossa solidariedade aos colegas e publicar este insosso texto de opinião? Por que não vamos além e explicitamos os vencimentos dos juízes estaduais nos anos de 2014, 2013 e 2012? Por que não bombardeamos o Tribunal de Justiça com pedidos de informação amparados na Lei de Acesso à Informação?

Porque a verdade da informação e a solidez da apuração não são suficientes para nos dar segurança quando o objeto da matéria é o poder judiciário do Paraná. Se tivéssemos que enfrentar a mesma peregrinação imposta aos jornalistas empregados pela Gazeta do Povo, se acabariam o Livre.jor, se acabariam as nossas reservas financeiras e as de boa parte dos familiares que se dispusessem a nos ajudar.

Não estamos defendendo o jornalismo “independente” preguiçoso e fundamentado em ilações, nem estamos querendo um salvo-conduto contra processos judiciais. Estamos sujeitos a esta ferramenta que garante os direitos de quem se sentir injustiçado por nossos eventuais erros.

Mas não é razoável que nos sintamos premidos de antemão quando o assunto for o judiciário paranaense. E, por absurdo que seja, é o que acontece, infelizmente. Isso não deveria ser motivo de satisfação ou mesmo de pouco caso para associações que reúnem e representam magistrados, muito menos para os muitos que – esperamos! – discordam dessa situação kafkiana.

Gostaríamos de ouvir deles palavras que contradigam a impressão de que a magistratura paranaense é dotada de um espírito de corpo inquebrável mesmo face a uma clara injustiça como a deste momento. Do contrário, ficará claro que o Jornalismo está sendo arbitrariamente julgado – por pares dos litigantes – por fazer justamente o que se espera dele.

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