Defasagem do IR injustamente corrói salário de quem ganha até R$ 3,8 mil, diz Dieese

Na segunda-feira (2) começa o prazo para declaração do Imposto de Renda (IR) e se você recebe até R$ 1.903,98 de salário não precisa pagar nada. Essa é a situação de 73% dos brasileiros, cuja remuneração está isenta do IR. Mas a mordida do Leão da Receita Federal poderia abocanhar menos gente se, desde 1996, o governo federal corrigisse o valor pela inflação. Daí a linha de corte seria de R$ 3.882,98, ou seja, 90% da população não deveria Imposto de Renda – e apenas os 10% com remunerações maiores seriam alvo do IR.

O cálculo da defasagem da tabela do Imposto de Renda foi divulgado pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) no dia 18 de fevereiro, quando o órgão publicou a Nota Técnica 220, intitulada “Imposto de Renda de Pessoa Física: propostas para uma tributação mais justa” [link aqui]. Se a correção da tabela pela inflação fosse a regra, desde 1996 a defasagem seria de 103,94%. Por exemplo, hoje quem recebe de R$ 1.903,99 até R$ 2.826,65 paga 7,5% de IR, ou seja, R$ R$ 142,80 por mês ao governo federal. Na faixa seguinte, de R$ 2.826,66 até R$ 3.751,05, o imposto é de 15% e o Leão abocanha R$ 354,80. Sem a defasagem, manteriam consigo este dinheiro.

“Se os salários são ajustados à inflação corrente e a tabela de incidência do imposto não o é, os rendimentos dos trabalhadores são corroídos em termos reais”, afirmam os técnicos do Dieese, para quem a correção pela inflação seria um passo na direção de uma tributação mais justa. “Entre 1996 e 2019, a tabela de cálculo do Imposto de Renda da Pessoa Física, segundo o IPCA-IBGE, acumula defasagem de 103,94%. Os valores da tabela não foram reajustados em 12 dos 24 anos que compõem a série, ou seja, entre 1996 e 2001, em 2003 e 2004 e de 2016 a 2019”, atesta o documento.

“Em dezembro de 2006, no âmbito de um acordo formalizado entre as Centrais Sindicais e o governo federal, no qual foram pactuadas regras para uma política de valorização do salário mínimo, estipulou-se que, entre 2007 e 2010, a tabela do IRPF teria correção anual de 4,5%. Em 2011, de forma unilateral, o governo decidiu manter o percentual de reajuste em 4,5% e o aplicou até 2014. Já em 2015, concedeu-se reajuste diferenciado por faixas de rendimentos, o que resultou em aumento médio de 5,60%. Desde 2016, a tabela não sofreu qualquer ajuste”, contextualiza o Dieese.

Para o Departamento Intersindical, também deveriam ser criadas duas faixas adicionais de tributação, no topo da pirâmide salarial do Brasil, de 30% e de 35%. Combinada com a correção da defasagem, ela incidiria respectivamente sobre quem tem remuneração acima de R$ 13.651,10 e de R$ 17.063,86 – ou seja, os 1% mais bem pagos do Brasil, que hoje recolhem 27,5% de Imposto de Renda, contribuiriam mais para a administração pública e para as políticas sociais de Segurança Pública, Educação e Saúde, por exemplo.

Quer saber quão bem você ganha ante a realidade brasileira? Faça como nós e use a calculadora do Nexo [link aqui]. Ela compara com a média nacional, com a do seu Estado e com a remuneração média de deputados federais, juízes, médicos e professores. É uma ótima maneira de puxar assunto no almoço de família no fim de semana.

Obrigatoriedade
Não é só quem ganhou acima de R$ 1.903,98 que é obrigado a pagar Imposto de Renda. Existem outras seis situações que o cidadão deve se atentar, para não ter problemas com a Receita Federal.

Também deve recolher IR quem:

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