Livre.jor – O que você está fazendo aqui?
Rafael Moro Martins – Tempos atrás fiquei feliz pacas por receber um convite do João e do Zé pra colaborar no Livre.jor. Mas, mesmo que eles não tivessem me convidado, eu teria pedido pra entrar no time. Há tempos que sou fã do trabalho deles.
LJOR – Por quê?
RMM – Os dois perceberam o pulo do gato que a Lei de Acesso à Informação pode se tornar para o trabalho do jornalista. Ela torna anacrônica a figura do assessor-de-imprensa-beque-central-quebrador-de-pernas, que existe para barrar o acesso às informações que incomodam governos, parlamentos, tribunais. Com a LAI, jornalista algum precisa ouvir a famosa expressão “não consegui os dados que você me pediu”. Eles são públicos. Basta saber como busca-los.
LJOR – É uma mudança tão grande assim?
RMM – Sem dúvida. Anos atrás, o acesso a certos documentos oficiais era muito mais difícil. Dependia da boa vontade de funcionários públicos, de um bom relacionamento com fontes cultivadas pelo repórter. Isso acabou. Agora, uma lei afirma que eles são públicos, à disposição de qualquer cidadão – é só pedir. Numa analogia, é a mesma revolução que a internet trouxe para a música. Antes dos arquivos mp3, existiam os discos raros, que só conhecíamos de ouvir dizer e imaginávamos como soariam. Hoje, está tudo à mão. Basta fazer um Google e apertar play.
LJOR – Que mudanças isso pode trazer para a sociedade, no fim das contas?
RMM – Falando em tese, governantes, parlamentares, desembargadores, funcionários públicos que sabem que cada ato seu está sujeito a escrutínio público a qualquer momento tendem a ser mais zelosos no desempenho de suas funções. A propaganda oficial, tão habituada a inflar números positivos para apresentar um retrato mais simpático do governante do turno, pode ser desmontada com a leitura atenta de documentos que estão a alguns cliques de distância. E a sociedade ganha um jornalismo de muito mais qualidade, que vai além do declaratório, do denuncismo alimentado por fontes imersas no jogo político-partidário (com textos que se valem de verbos no futuro do pretérito para escapar das possíveis consequências da informação que não ousam cravar). Ganha um jornalismo de fato, capaz de apurar e garantir informações.
LJOR – E como você acha que o poder público irá reagir a isso?
RMM – Órgãos públicos são, em maior ou menor grau, refratários ao olhar do público – atitude arrogante e injustificável, se nos lembrarmos que somos nós, o público, quem financia o aparelho estatal. Eles terão de se habituar a prestar contas. É um avanço em direção a uma relação mais madura, republicana, entre sociedade e Estado. Ninguém bem intencionado tem algo a perder, nessa relação. O único risco que corremos é deixarmos uma ferramenta tão importante quanto a LAI cair no esquecimento. Mas isso, estou certo, não irá acontecer.