Foto: Arquivo/Agência Brasil


1) Os clãs Barbalho e Marinho são a mesma família
O nome completo dele é Rogério Simonetti Marinho, filho de Valério Djalma Cavalcanti Marinho e Sônia Maria Simonetti. Os avôs maternos se chamavam Arnaldo Barbalho Simonetti e Cirene Barbalho. Benjamin Constant Simonetti e Emília Barbalho eram os pais de Arnaldo, Odilon Barbalho e Elvira Barbalho eram os pais de Cirene.

Rogério Marinho é do tronco original da família, cuja raiz fica em Goianinha, no Rio Grande do Norte. Os Barbalho do Pará são os primos que ficaram famosos e mandam na política do estado vizinho até hoje. Rogério Marinho era um político nacionalmente desconhecido até fevereiro de 2017.

2) Michel Temer inventou Rogério Marinho
Depois de manobrar o impeachment de Dilma Rousseff, Michel Temer precisava de alguém que lhe obedecesse para a relatoria da Reforma Trabalhista. Ele encontrou Rogério Marinho na presidência da Frente Parlamentar Mista em Defesa do Comércio, Serviços e Empreendedorismo, que existia para ecoar os interesses da Associação Brasileira de Supermercados e da União Nacional de Entidades do Comércio e Serviços.

A emenda saiu tão melhor que o soneto para Temer que Marinho, já no governo Bolsonaro, foi quem articulou a Reforma da Previdência em 2019. De lá, foi para o Ministério do Desenvolvimento Regional, em 2020, onde construiu sua eleição para o Senado – onde hoje disputa a presidência da Casa, apoiado pelo bolsonarismo, que é a expressão atual daquilo que o avô de Marinho combateu. Mas o neto seguiu outra receita.

3) Djalma Marinho advogou para comunistas
Não eram só os Barbalho do lado materno que tinham longas raízes políticas, o lado paterno também estava metido no jogo. Nascido em 1908, o avô Djalma Marinho foi presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) no Rio Grande do Norte. Em 1935, ele defendeu 500 presos políticos em Natal, no episódio que ficou conhecido como Intentona Comunista, quando Prestes tentou derrubar Vargas.

O avô de Rogério Marinho era um político conservador e presidiu a comissão que declarou vaga a chefia do Executivo Nacional, depondo de vez João Goulart da presidência. Ao longo da ditadura militar, Djalma foi caindo na real, até que, em 1968, enquanto presidia a Comissão de Constituição e Justiça, recusou-se a abrir processo de cassação contra o deputado Márcio Alves pelo discurso feito por ele na véspera, contra a ditadura militar. É por essa defesa da liberdade de expressão que o avô de Rogério Marinho dá nome à sala da CCJ na Câmara dos Deputados.

Uma frase de Djalma Marinho ficou na memória dos seus correligionários: “o melhor da democracia não é a eleição dos melhores, mas a derrota dos demagogos, mentirosos e subservientes”. Para os jornalistas, Rogério Marinho já disse que aprendeu a gostar de política com o avô. Pegou o gosto, mas não absorveu as lições. Uma pena.

4) Engenho de cana-de-açúcar com trabalho escravo
É raro ouvir Rogério Marinho falar das raízes coloniais da sua família, que foi uma das primeiras a habitar a praia da Pipa, fazendo riqueza nos engenhos de cana-de-açúcar graças à mão de obra de africanos e indígenas escravizados. Típica “família quinhentista”, como dizem os historiadores, cujo dinheiro repercutirá por gerações, garantindo cursos universitários e cargos na Justiça e Ministério Público para boa parte dos descendentes.

Boa parte dos dados sobre as raízes da família no Rio Grando do Norte foi publicada por Ormuz Barbalho Simonetti, irmão de Rogério, em obras convenientemente esgotadas. Por sorte, a internet salvou trechos de artigos seus, nos quais ele conta como o náufrago genovês Giovanni Baptista Simonetti, salvo por aquelas bandas, casa-se com Gertrudes Guilhermina Barbalho, neta do português e capitão-mor Bento Freire do Revoredo.

5) Muito mais político que economista ou professor
Dentro dos estudos de genealogia, o pesquisador Ricardo Costa de Oliveira cunhou a expressão “silêncio dos vencedores” para explicar a estratégia das tradicionais famílias políticas de ocultar suas origens para não serem desmerecidos pela fruição do privilégio. Rogério Marinho levou a tática a um novo patamar, ocultando não só sua linhagem, como também sua trajetória profissional.

De professor, ele tem a experiência de ter lecionado na rede pública do Rio Grande do Norte. De economista, a experiência recentíssima no governo federal, que só veio a acontecer décadas depois da formação pela antiga Unipec, hoje Universidade Potiguar. Nesse ínterim, foi mesmo é do segundo escalão da política do Rio Grande do Norte (grudado em Wilma de Faria) e  presidente do ABC Futebol Clube.

Chamá-lo de economista e professor foi uma opção da mídia nacional, na época da aprovação da Reforma Trabalhista, para pintá-lo como um técnico, dentro de um consenso ideológico-empresarial sobre a redução de direitos.

Todas as informações utilizadas aqui constam na pesquisa acadêmica “O silêncio dos vencedores como estratégia para uma ‘ilusão de outsider’: família e trajetória política de Rogério Marinho“, publicada pelo Núcleo de Estudos Paranaenses (NEP), da pós-graduação em Sociologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR). O NEP é referência nacional em genealogia e política.

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