Na noite de segunda-feira (27), o Corpo de Bombeiros de Minas Gerais informou que o talude norte da mina de Gongo Seco, na cidade mineira de Barão de Cocais, havia se deslocado mais 21 centímetros. Criada para armazenar rejeitos de minas de ferro da Vale na região, há risco de rompimento da barragem se a estrutura ceder. Consulta simples às informações dispostas no Projeto Latentes, que mapeou a tensão socioambiental no Brasil, mostra que, pelos documentos da Agência Nacional de Mineração (ANM), a exploração de ferro neste ponto específico começou em 1961.
Clicando na área vermelha disposta sobre a mina do Gongo Seco, e depois no número em destaque que aparece no pop-up, quem consulta o Projeto Latentes é redirecionado para o site da ANM. Ali é preciso corrigir o número para 001.791/1961, que é a identificação do processo de concessão da lavra, para acessar as movimentações relacionadas às minas que agora levam preocupação à região central de Minas Gerais. Por exemplo, há no documento (reproduzido abaixo) a referência a multas aplicadas e a declarações de estabilidade protocoladas junto ao órgão federal.
A consulta simples não permite saber do que se trataram essas multas, mas aos promotores públicos e jornalistas que acompanham o caso fica mais fácil saber da existência desses documentos a partir desta ficha – e que agora podem ser solicitados via Lei de Acesso à Informação, por exemplo. Não há terra indígena, comunidade quilombola ou assentamento rural nas proximidades, mas há pouco mais de 10 km da área está o Parque Nacional da Serra do Gandarela. Numa distância menor, a Área de Proteção Ambiental Sul da Região Metropolitana de Belo Horizonte praticamente faz divisa com a mina do Gongo Seco.
Com a imagem mostra, há intensão exploração minerária em toda a região, com minas de ferro em uso desde a década de 1930. É o caso de outras unidades em Barão de Cocais administradas pela Vale – podem consultar os processos 000.847/1935, 002.312/1935 e 801.204/1975, por exemplo. O mapeamento realizado pelo Projeto Latentes, iniciativa coordenada pela agência de notícias Livre.jor e apoiada pelo Fundo Brasil de Direitos Humanos, identificou que Minas Gerais é o segundo estado com mais risco de conflitos socioambientais ligados à mineração no país.
Não só isso já deixou de ser novidade, como dados do governo federal mostram que 50% das barragens construídas com a técnica de alteamento a montante são de alto risco.