Quando as autoridades públicas de Saúde divulgaram os dados referentes ao dia 22 de março, o Paraná via a “lenta” escalada dos casos confirmados do novo coronavírus no estado. Passada uma semana da confirmação que o Sars-CoV-2 já circulava por aqui, o número de municípios infectados pulou de 2 para 11 e os casos de 6 para 50. Em sete dias, o número de cidades tinha quintuplicado e o de casos aumentou oito vezes. Foi quando as medidas de isolamento social começaram a ser aplicadas nas grandes cidades.
Mesmo com uma parcela da população tomando cuidado redobrado, o relatório divulgado pelo governo do Paraná no dia 31 de março diagnosticou o avanço do novo coronavírus pelo interior do Paraná, atingindo cidades pequenas, nas quais o sistema de saúde é menos estruturado que o dos centros urbanos. Em vez de 11, eram 43 os municípios com pessoas diagnosticadas – praticamente o quádruplo do aferido dez dias antes. Na lista, aparecem cidades como Verê, Quatigá e Mariópolis, que têm menos de 10 mil habitantes.
Os riscos à saúde pública que o avanço do Sars-CoV-2 pelo interior do Brasil significa foram denunciados nesta quinta (2), em reportagem do UOL, assinada por Judite Cypreste e Vinicius Konchinski [link aqui]. Ao analisar os dados compilados pela plataforma colaborativa Brasil.IO [link aqui], eles apuraram que o contágio que começou com casos importados já configura focos de transmissão regional e que há falta de atendimento especializado nessas localidades. Ao falar com prefeitos, os relatos sobre dificuldade de prestar atendimento à população.
Mais que isso: enquanto a imprensa acompanha as grandes cidades, que concentram mais casos em números absolutos, proporcionalmente a situação pode ser mais grave justamente nos municípios pequenso. Por exemplo, no dia 31 de março, Curitiba tinha 87 casos confirmados – ou seja, 4,5 infectados para cada 100 mil habitantes. Em Verê, com um caso, a proporção é de 13,7 por 100 mil habitantes – um contágio quatro vezes maior que na capital do Estado, numa cidade incomparavelmente mais desassistida.
Lista dos municípios com casos diagnosticados de Sars-CoV-2 no dia 31 de março: Almirante Tamandaré (2 pessoas), Campo Largo (3), Campo Mourão (3), Cascavel (10), Castro (1), Cianorte (7), Contenda (1), Curitiba (87), Faxinal (1), Foz do Iguaçu (10), Francisco Beltrão (1), Guaíra (2), Guarapuava (1), Iretama (1), Lapa (1), Londrina (9), Marechal Cândido Rondon (1), Maringá (9), Mariópolis (1), Matinhos (1), Medianeira (1), Paranavaí (2), Pato Branco (2), Peabiru (1), Pinhais (4), Ponta Grossa (3), Quatigá (1), Quatro Barras (1), Rio Branco do Sul (1), Rio Negro (1), São José dos Pinhais (3), Telêmaco Borba (2), Terra Rica (1), Umuarama (2) e União da Vitória (1).
Vigília da imprensa
Reportagens sobre o risco que o Covid-19 representa para a população mais vulnerável do Paraná ainda são raras, mas começam a pintar no radar do jornalismo local, como a feita por Roger Pereira, na Gazeta do Povo sobre a situação no interior [link aqui]. Na capital, focado nas comunidades mais pobres, José Pires, especializado na cobertura em Direitos Humanos, no Parágrafo 2, tem acompanhado pessoalmente a situação nas favelas da maior região metropolitana do Estado [link aqui]. Com o aumento dos casos, a atenção do jornalismo vai se virar para este front.
Mas enquanto ainda é possível sonhar com um milagre, no entanto, a atenção da imprensa segue no reforço das medidas preventivas – como a campanha da emissora RPC, #emcasasimsozinhonunca – e na divulgação dos boletins das autoridades de saúde pública – o Bem Paraná é uma boa fonte para ficar por dentro do assunto do dia [link aqui].
Outra linha de ação tem sido caçar casos não identificados da doença. E há indícios que eles existem. Por exemplo, a Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen-Brasil), que administra uma plataforma com dados das certidões de óbito emitidas no país [link aqui], enquanto o Ministério da Saúde registrava 241 óbitos relacionados à Covid-19 (a doença inflamatória causada pelo novo coronavírus, o Sars-CoV-2), alertava para a emissão de 294 registros relacionando a pandemia na causa mortis.
Em Curitiba, Angelo Sfair, no Paraná Portal, investigou 15 funerais de pessoas cujas mortes poderiam ser por Covid-19 não diagnosticada em Curitiba [link aqui]. Na Gazeta, Rosana Félix buscou dados do Infogripe para quantificar as mortes por pneumonia no ano passado – de forma a permitir uma comparação mais adiante [link aqui]. No Plural, dentro de uma série especial de reportagens, Rosiane Correia de Freitas apresentou estudo contratado pelo jornal que mostra o risco do colapso do SUS no Paraná em abril [link aqui].
#fiqueemcasa