Já pensou em acessar um site do governo federal à procura de dados públicos, e cair em uma cena de novela? Não em uma qualquer, mas na memorável cena em que Nazaré Tedesco, a rainha dos memes, se consolida na história da cultura novelesca como uma das mais ardilosas vilãs?
“A mulher diz: Eu te adoro tanto que eu transei contigo no dia do parto. Entretanto, apesar de ouvir as desculpas de Nazaré, José Carlos continua decidido a denunciar a mulher. Para impedi-lo, ela o empurra quando ele está prestes a descer a escada. Ele cai no andar de baixo. Enfraquecido”.
Não é um arquivo “uplado” em lugar errado, isso afirmamos com certeza. É, na verdade, a resposta a um pedido de informação. Isso mesmo. Um cidadão pediu os relatórios de classificação indicativa dos primeiros capítulos da novela Senhora do Destino. O documento contendo as análises pontuais de todos os episódios foi enviado pelo Ministério da Justiça e Cidadania.
Coisa estranha? Até que não, sabia. Isso porque compete ao Departamento de Políticas de Justiça a atribuição das classificações indicativas de “obras audiovisuais, jogos eletrônicos, RPG e aplicativos. A política consiste em indicar a idade não recomendada, no intuito de informar aos pais. A estes, por sua vez, cabe a decisão final sobre o que os seus filhos poderão ou não assistir”, conforme justifica o órgão no pedido de informação.
Com nase no guia de classificação indicativa a análise é feita levando em conta três temas distintos: “sexo”, “drogas” e “violência”, e o resultado é com avaliação da obra completa, e não apenas das partes.
E não olha que não foi apenas este pedido sobre o tema. São inúmeros solicitando classificação indicativa de filmes, novelas e seriados. E os relatórios são bem explicativos, com ponderações e análises minuto a minuto. Tem relatório de novelas como Chamas da Vida, Felizes Para Sempre, Verdades Secretas, Os dez mandamentos, de filmes como Aquarius, Boi Neon, Tatuagem, Tomboy e Somos Tão Jovem.
Tá em dúvida se aquele filme que você reservou para assistir com a família é adequado? Faça um pedido informação que #aLAIresponde. E com isso demos início a segunda publicação da nossa série Três Coisas que Você não Sabia que a LAI Poderia te Responder, que aborda os pedidos curiosos de informação que foram atendidos pelo governo. É pra não dizerem por aí que a LAI não é democrática.
#2 – Cabe quantos nesse cinema aí? É possível saber quantos lugares e quantas salas de cinemas comerciais temos em Curitiba, ou em qualquer outro município do país. Dois pedidos de informação dão conta desses dados. Quem respondeu a ambos foi a Agência Nacional do Cinema (Ancine). Um arquivo digital PDF com quase uma centena de páginas dá conta de contabilizar os “assentos por sala comercial em funcionamento”. Claro, a contagem desconsidera as salas de cinemas fechadas, as que estão em reforma, as não comerciais e as pornôs.
Em Curitiba, por exemplo, as seis salas do Cine Batel dão conta de adequar 979 pessoas. Já o Cine Boulevar, em Londrina, tem capacidade de assentos para 721 pessoas em apenas quatro salas. Confira lá o arquivo e faça as contas para saber se a sua galera cabe ou não e uma sala de cinema.
#3 – “Voyage au Brésil”, uma resposta que é mais uma aula sobre cinema – Um cidadão viu no encarte da Funarte que na Bienal da Música Brasileira de 2013 teria sido reproduzido a película “Voyage au Brésil, de 1927 de Ramos de Castro, sonorizado por Villa-Lobos” e pediu uma cópia.
Eis que um servidor da coordenação de música erudita da Funarte responde prestativamente informando que o filme não foi exibido, pois está perdido desde a década de 1970, supostamente queimado “no incêndio, há uns 40 anos, em disribuidora/realizadora/dubladora de filmes que ficava num andar elevado perto da rua Álvaro Alvim”, num incidente que “deu o que falar, com gente se atirando ou caindo lá de cima”, segundo o servidor, que tentou ainda localizar o filme “também em centros franceses de documentação fílmica”, mas sem sucesso.
A resposta demonstra o interesse do servidor e a dedicação. O que chama a atenção é que a LAI especifica que a obrigatoriedade na resposta está no fornecimento de dados já produzidos, e não em interpretação sobre informação. Sim, muitos amam o trabalho, e assim fazem com perfeição. Confira a resposta dada pela Funarte, que também acompanha um PDF com o encarte da bienal de 2013.