Horas após a prefeitura de Curitiba definir a nova tarifa técnica do transporte coletivo em R$ 3,21, na terça-feira (29/9), o sindicato que representa os empresários do setor emitiu nota que deixa no ar a possibilidade de mais uma greve de motoristas e cobradores. Jornalistas também mencionam a possibilidade de que a paralisação (que, ao menos em tese, é decidida pelos trabalhadores, não pelos patrões) acabe por forçar um reajuste tarifário.
É assim mesmo que tem funcionado?
O Livre.jor cruzou as datas dos reajustes tarifários com as das 11 greves no transporte deflagradas na cidade desde o lançamento do Real – os dados são da Urbs, em resposta a pedido de informações via Lei de Acesso à Informação. Eles mostram que houve reajuste menos de 20 dias após quatro paralisações, nas gestões de Rafael Greca (então PDT, atualmente no PMN), Cassio Taniguchi (DEM), Luciano Ducci (PSB) e Gustavo Fruet (PDT).
Por outro lado, três greves foram sucedidas, dias ou meses depois, não por aumentos, mas por novas paralisações. E quatro prefeitos (Greca, Taniguchi, Fruet e o tucano Beto Richa) mantiveram a tarifa durante meses após motoristas e cobradores voltarem ao trabalho.
Cabe frisar que esse levantamento é nada mais que uma cronologia; não tem a pretensão nem permite enxergar quaisquer relações de causa e efeito entre greves e aumentos. Salários de motoristas e cobradores são componente importante da tarifa do transporte público. E uma série de variáveis – técnicas, econômicas e políticas – é levada em conta para definir os reajustes.
Os dados que embasam este e outros textos da série #TarifaCuritiba estão disponíveis aqui.
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Guerra e paz
Desde o Real, Rafael Greca e Gustavo Fruet foram os prefeitos que mais dores de cabeça tiveram com greves no transporte coletivo. No caso do ex-pedetista, o motivo provável para o alto número de paralisações – quatro, em pouco menos de dois anos e meio – é a inflação ainda alta dos primeiros meses pós-Real, que acirrava as negociações salariais. O INPC acumulou alta de 53,8% entre julho de 1994, lançamento do Real, e o fim do mandato de Greca, em dezembro de 96.
Fruet, por seu turno, se deparou com a jornada de protestos de junho de 2013 – detonada pela insatisfação com os transportes públicos nas maiores cidades do país – seis meses após tomar assento no Palácio 29 de Março. As manifestações levaram a uma redução na tarifa, respondida pelos empresários com uma ação judicial que lhes deu direito de oferecer aos usuários um serviço prestado por mais de 180 ônibus com vida útil vencida.
De lá pra cá, a relação permaneceu conturbada. E o pedetista ostenta o recorde de nove dias com paralisações no sistema de transporte em seu mandato de três anos ainda incompletos.
Na comparação, Cassio Taniguchi, Beto Richa e Luciano Ducci viveram dias tranquilos. O democrata, mais longevo prefeito da cidade desde o Real – oito anos completos de mandato – enfrentou duas greves, ambas de apenas um dia. Richa, único prefeito desde 1994 a completar um mandato de quatro anos com reajuste na tarifa inferior à inflação, se deparou com um único dia de greve.
Cabe lembrar que o tucano criou a tarifa mais barata aos domingos e reduziu o preço da passagem ao anunciar a licitação do transporte coletivo – vista por Fruet e pelo Tribunal de Contas do Estado como causa dos problemas enfrentados atualmente pelo sistema. Ducci, por fim, teve de lidar com uma greve de dois dias, deflagrada em fevereiro de 2012 – coisa de ano e meio depois dele mesmo homologar a licitação aberta pelo antecessor.
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