A tarifa de ônibus paga pelos curitibanos subiu mais de duas vezes a inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) desde que o país adotou o Real como moeda. Entre julho de 1994 e julho de 2015, a passagem passou de R$ 0,40 a R$ 3,30 – um aumento de 725%. O INPC em Curitiba alcançou alta de 317,20% no período, segundo o IBGE.
Mesmo que a comparação seja feita com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo, ainda assim o ônibus subiu bem mais que a inflação. (O IPCA, que mede o custo de vida para famílias com renda mensal de até 40 salários mínimos; o INPC tem como teto uma renda mensal de até cinco mínimos.) O IPCA acumulava alta de 428,24% até julho passado, em Curitiba desde o lançamento do real. O caderno do IBGE com ambos os índices está aqui.
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Os dois primeiros prefeitos que governaram Curitiba após o Real (Rafael Greca, então do PDT, hoje no PMDB, e Cassio Taniguchi, ex-PDT, depois PFL, atual no DEM) reajustaram a tarifa acima da inflação acumulada ao longo de seus mandados. No caso de Taniguchi, que foi reeleito e comandou a cidade por oito anos, os aumentos superam com folga o INPC.
O cenário mudou com a eleição de Beto Richa (PSDB). O tucano, que era vice de Taniguchi, pavimentou o caminho à principal cadeira do Palácio 29 de Março ao – como prefeito interino – cassar o reajuste determinado pelo pefelista, então em viagem ao exterior.
Eleito, Richa mexeu por duas vezes no preço da passagem em seus primeiros meses de governo. Ambas para reduzi-la. Menos de 30 dias após a posse, criou a tarifa domingueira. Meses depois, em junho, reduziu o preço cobrado nos dias úteis e sábados em 10 centavos, e anunciou licitação para contratar empresas para operar o sistema.
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Richa só viria a aumentar a passagem em abril de 2007, quase dois anos e meio após eleito. E, mesmo assim, o reajuste meramente devolveu à tarifa os 10 centavos retirados em 2005. Assim, o tucano completaria seus primeiros quatro anos como prefeito com o ônibus custando os mesmos R$ 1,90 de quando assumiu o posto.
Do ponto de vista político, foi ótimo. Richa reelegeu-se com estrondosos 77% dos votos válidos e se tornou favorito na sucessão estadual, marcada para dali a dois anos – disputa que, de fato, venceria. Mas o primeiro quadriênio do tucano teve inflação acumulada de 15,42%, e nenhum aumento na tarifa.
Richa finalmente aumentou a passagem – para R$ 2,20 – dez dias após tomar posse para o segundo mandato, em 2009. Pouco mais de um ano depois, passaria o bastão ao vice, Luciano Ducci (PSB), para se lançar na disputa pelo Palácio Iguaçu. Ducci segurou a tarifa no valor deixado pelo antecessor por inéditos 783 dias, até aumentá-la em março de 2011 – já depois de ter homologado a licitação do transporte, vencida pelas mesmas empresas que já operavam o sistema.
Após um novo aumento, um ano depois, Ducci – que fracassou na busca pela reeleição – fechou o mandato com reajustes acumulados superiores à inflação. Foi sucedido por Gustavo Fruet (PDT), que em menos de seis meses da mandato viu a cidade (bem como o resto do país) ser sacudida por uma onda de manifestações que tinham como estopim a insatisfação com o preço do transporte. Pressionado, baixou a tarifa.
Mas a temperatura não baixou. O Tribunal de Contas do Estado levantou suspeitas sobre a licitação lançada e homologada pelos antecessores Richa e Ducci, respectivamente. E os donos das empresas foram à Justiça reclamar que a redução no preço da passagem lhes tirava as condições de renovar a frota – e ganharam. Desde então, nunca mais o curitibano viu ônibus novos rodarem pela cidade –pelo contrário. E o transporte público, por anos louvado como modelar, se tornou o maior problema do prefeito de Curitiba.