Beira o mau gosto essa imagem do título, especialmente pelo nome de trabalho do governador do Paraná ser Ratinho Júnior, mas ela passa o recado. Então vamos a ao recado, quer dizer, ao cálculo político sobre o futuro da direita no país. Que tem tudo a ver com o presente do Paraná.
Quando Gilberto Kassab puxou para si a articulação política da candidatura do bolsonarista Tarcísio de Freitas ao governo de São Paulo, e ganhou as eleições batendo Haddad, ele se cacifou como o segundo maior articulador da política brasileira da atualidade – atrás de Lula, óbvio.
Depois do fracasso da terceira via nas eleições do ano passado, Kassab está apostando na continuidade da polarização entre esquerda e direita. Para isso, sacou que precisa galvanizar o bolsonarismo fanático, o conservadorismo religioso e os neoliberais em torno de um nome. Talvez dois, mas não mais que três.
Tarcísio é o preferido da vez, e Kassab já disse que ele é um candidato competitivo, mas para 2030. A lógica é não atirá-lo no fogo desde já, para não atrapalhar a gestão em São Paulo, que vai ser o cartão de visitas do dito cujo – além de dar tempo para as instituições decantarem o golpismo residual dos anos Bolsonaro.
Se Kassab não estiver blefando sobre marinar Tarcísio para 2030, quer dizer que daqui a quatro anos a hipótese da polarização poderá ser testada, desde que haja uma cobaia viva no laboratório. Tem outros governadores reeleitos na jogada, né, já que Helder Barbalho (MDB/PA) e Rodrigo Leite (PSDB/RS) não têm sido nada discretos.
Só que Barbalho e Leite estão na batalha com Simone Tebet, rachando o campo progressista ou o que quer que o valha. Isso estava escalando tão rápido nos últimos dias que Lula deu uma freada de arrumação, lançando a bravata de ser candidato à reeleição aos 80 anos de idade. Acredite quem quiser.
Barbalho, Leite e Tarcísio foram juntos à Davos, mostrarem-se ao capital internacional; Ratinho, não, que preferiu o jogo interno, pois calcula que tem tempo até para tratamento capilar. Talvez tenha sido aconselhado a desacelerar, depois de tingir-se apressadamente de neoliberal com o balão de ensaio da privatização da Copel.
Tem gente aqui no Paraná que ri com o papo de Ratinho Júnior candidatar-se à presidência da República, mas quais são as opções dele? O status quo local já se organizou para eleger Eduardo Pimentel prefeito de Curitiba, seguido por Rafael Greca na Secretaria das Cidades e, depois, ao Senado.
Diz-se abertamente no Centro Cívico que Alexandre Curi (PSD) pretende lançar-se ao governo do Paraná, prometendo um teste interessante do real alcance da sua influência política. Serão duas vagas ao Senado, cabe mais um no chapão, mas arrisco dizer que ninguém se submete ao ridículo de dar coletiva de boné pra pouco.
A eleição nacional de 2026 promete ser parecida à estadual de 2018 no Paraná, quando as lideranças tradicionais estavam fora do baralho e Ratinho venceu sem dificuldades Cida Borghetti (PP), João Arruda (MDB) e Dr. Rosinha (PT). Pode brincar com os cenários, que fica parecido: Tebet, Dória, Barbalho, Leite, Haddad, Ciro… Não há quem desponte.
O futuro político de Ratinho Júnior está nas mãos de Kassab e do laboratório que ele montou para testar a viabilidade da direita no Brasil. O desempenho de Tarcísio vai dar o tom do jogo, logo é de se esperar que São Paulo e Paraná tenham alguns atritos mais adiante. A conferir.