Palácio Iguaçu. Foto: Pedro Ribas

No último ano da gestão Beto Richa (PSDB), em 2018, o governo do Paraná decidiu perdoar R$ 10 bilhões em impostos estaduais. São recursos que na sua maioria iriam para políticas públicas, como saúde, educação e segurança, mas o Estado desiste deles na esperança que, mais aliviados, os empresários gerem postos de trabalho e circulação de mercadorias, em vez de usar a grana para alargar margens de lucro. É muito difícil mensurar se essa substituição funciona, mas os governos não param de repetir a fórmula.

Desde que Ratinho Júnior (PSD) assumiu o Palácio Iguaçu esse número nunca mais voltou àquele patamar, subindo para R$ 10,4 bi em 2019, R$ 11 bi em 2020 e R$ 11,8 bi em 2021, depois atingindo os surpreendentes R$ 17,4 bilhões de 2022. O número foi tão chocante que deputados procuraram o Ministério Público do Paraná, após o governo estadual se recusar a dizer o CNPJ das empresas beneficiadas e os atos de gestão que autorizaram os descontos. Eles pediram a abertura de uma investigação.

A novidade é que nos anexos do projeto da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) para 2023, pela primeira vez desde que Ratinho Júnior assumiu a direção do Paraná, a desoneração fiscal não subiu. Até recuou, mas pouco. No documento, o governo diz que não cobrará R$ 16,1 bilhões, reduzindo a previsão anterior, que era de inéditos R$ 18 bilhões, em 10,5%. No documento, não há uma linha sobre os motivos do corte de R$ 1,89 bilhão nos benefícios fiscais. Nenhuma explicação sobre segmento do empresariado terá que lidar com essa frustração de expectativa.

Então, o que sabemos? Quase a totalidade dos benefícios fiscais são perdão de ICMS (R$ 15,9 bilhões), seguido por IPVA (R$ 128 milhões) e ITCMD (R$ 6,5 milhões). No tocante ao ICMS, R$ 6,2 bilhões são isenção direta, R$ 5,7 bilhões são concedidos via “crédito presumido” e a perda de R$ 3,9 bilhões decorre da “redução da base de cálculo”. Abaixo publicamos a lista de setores beneficiados, em ordem decrescente de impostos que não serão recolhidos.

Infelizmente, a opacidade do governo sobre os dados impede a população de saber, por exemplo, quanto dos R$ 8,7 bilhões perdoados à produção e comércio de alimentos é para reduzir itens da cesta básica, ou se nesse montante há benefício fiscal a produtos supérfluos. Desde que os projetos da LDO passaram a divulgar os setores beneficiados pelo perdão de impostos, em 2017, a Livre.jor vem sistematicamente destacando a importância da discussão pública desses dados.

Setores/Programas/BeneficiáriosBenefícios fiscais
Alimentos (Produção)R$ 5.225.763.402,00
Alimentos (Comércio)R$ 3.521.096.781,00
AutomotivoR$ 1.623.384.897,00
MetalúrgicoR$ 1.613.485.008,00
QuímicoR$ 732.427.250,00
CombustíveisR$ 518.175.291,00
EletroeletrônicosR$ 509.893.135,00
FármacosR$ 444.240.060,00
ComércioR$ 360.593.855,00
TransportesR$ 216.917.995,00
TêxtilR$ 209.673.774,00
PapeleiroR$ 203.566.107,00
IndústriaR$ 173.239.798,00
OutrosR$ 158.055.728,00
EnergiaR$ 123.798.447,00
ConstruçãoR$ 121.210.569,00
MadeirasR$ 75.376.898,00
Portadores de necessidades especiaisR$ 65.717.516,00
ServiçosR$ 65.412.358,00
Ônibus municipalR$ 40.679.961,00
ComunicaçõesR$ 35.360.225,00
CosméticosR$ 34.715.255,00
BebidasR$ 19.835.932,00
TáxiR$ 16.098.567,00
Higiene PessoalR$ 6.459.390,00
Transporte escolarR$ 4.822.730,00
Agropecuária e pescaR$ 1.513.992,00
FumoR$ 87.216,00
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