A notícia que o secretário de Saúde do município de Quatro Pontes, Marcos Wickert (DEM), furou a fila da vacinação, sendo imunizado antes mesmo da enfermeira que lhe aplicou a injeção, é velha. A novidade são as sanções que ele negociou com o Ministério Público do Paraná (MP-PR), ao firmar um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), para escapar de um processo na Justiça Estadual [confira a íntegra aqui].
Na investigação, o MP-PR confirmou aquilo que a imprensa regional havia denunciado: que Wickert se vacinou contra o novo coronavírus no dia 20 de janeiro, “fora da ordem de escalonamento prevista no Plano Estadual de Vacinação” e “antes da profissional responsável pela aplicação da vacina”, que por ser enfermeira tinha prioridade na imunização.
Conforme registrado no TAC, Wickert não acha que fez algo errado. “O compromissário manifestou interesse em solucionar o caso por meio consensual, apesar de não reconhecer a conduta praticada como ímproba”. Para a imprensa, Wickert disse que foi aconselhado por sua equipe a tomar a vacina primeiro, por entender que gestores estão tão na linha de frente quanto as enfermeiras…
Impoluto ou não, Wickert aceitou pagar multa de R$ 15 mil e perder os direitos políticos por um ano desde que o MP-PR não inicie “a percecução cível relacionada aos fatos do presente inquérito civil [0085.21.000098-1], arquivando-o quando cumprida a obrigação principal”. Ou seja, o político temia uma derrota na ação por improbidade administrativa que viria a seguir, se não houvesse o TAC.
Curiosidade: o secretário parcelou a multa, e irá pagá-la em 15 parcelas de R$ 1 mil.
Político de expressão local, Marcos Wickert não perde muito ao ficar inelegível por um ano. No máximo, desfalcará a chapa do Democratas para a Assembleia Legislativa do Paraná. Eleito vereador em 2020, ele obteve 344 votos, sendo o terceiro mais votado de Quatro Pontes, antes de ser indicado para a secretaria municipal de Saúde. Onde está até hoje, apesar de ter passado a enfermeira para trás na vacinação.
Mas imaginem a perda dos direitos políticos sendo aplicada a todas as pessoas que furaram a fila da vacinação? Hoje, segundo o cadastro de denúncias da Controladoria Geral do Estado, há 985 casos levados ao conhecimento do governo do Paraná. Se cada denúncia fosse um caso concreto, e a multa de R$ 15 mil fosse aplicada, por exemplo, o SUS estadual arrecadaria R$ 14,7 milhões. Algo a se pensar, não?