Para não serem enganados durante as eleições deste ano, quando um candidato prometer bilhões de investimento no Paraná, divida isso pela metade. No mínimo. Em 21 anos, desde 2000, os governadores do Estado prometeram R$ 68 bilhões em investimentos, mas só empenharam R$ 35 bi – meros 51,45% do que era esperado.

Essa conta é fácil de fazer com os relatórios que a Secretaria da Fazenda no Paraná deixa disponíveis na internet. Nos três anos referentes à gestão Jaime Lerner, 51,8% foi a realização média dos investimentos, considerando os valores empenhados de 2000 a 2002.

A média de Requião é a maior do período, mas mesmo assim não passou dos 60%. Com Beto Richa, foi de 48,93%, e, com Ratinho Júnior, 48,96%. Para esse cálculo, usamos os recursos empenhados, que são promessas de pagamento. Se olhássemos para os recursos liquidados, ia ser bem pior.

E se for pior?
Menos de um terço do dinheiro carimbado como investimento no Paraná foi efetivamente pago no mesmo ano em que foi prometido. A média, nesses 21 anos, foi de 30,81%. Na linha do tempo, entretanto, esse número é a distorção de um progressivo achatamento na realização dessa despesa.

Com Lerner, os investimentos liquidados no mesmo ano foram de 43,55%, deixando apenas 8% em restos a pagar. Essa diferença é importante para entender a caixa-preta dos investimentos no Paraná, pois não há como checar facilmente se aquilo que ficou para o ano seguinte foi efetivamente pago no exercício seguinte.

Com Requião, 37,41% dos investimentos foram liquidados no ano. Beto Richa, 28,42%. E, com Ratinho Júnior, 27,45% – o menor percentual quando olhamos os números segregados por gestão. Em 2021, a gestão Ratinho Júnior planejou investir R$ 3,7 bilhões, ao longo do ano aumentou a previsão para expressivos R$ 8,2 bilhões, mas empenhou só R$ 4,2 bilhões (52,31%) no fim do período. Desta grana, 23% virou restos a pagar neste ano.

Pedimos os relatórios anualizados de investimentos e restos a pagar pela Lei de Acesso à Informação (atendimento 19626/2022). Enquanto não temos a resposta, vamos confiar nas despesas empenhadas. É difícil comparar governos, porque há escassez de documentos oficiais padronizados ao longo de décadas – e é preciso preencher as lacunas.

Quer conferir os números? A tabela com a apuração está online aqui, só clicar. Viu um erro? Avise, que a gente arruma.

Quem investiu mais?
Essa é uma pergunta bastante complicada, com mais de uma resposta certa. Se considerarmos todos os anos do período, Jaime Lerner empenhou 7,53% do total das despesas com investimentos, seguido por Requião (6,21%), Ratinho Júnior (5,98%) e Beto Richa (4,19%).

Comparando isoladamente os anos, 2006 foi um estrondo, com o governo do Paraná empenhando em investimentos o recorde de 9,90% das despesas totais daquele ano. E o mérito não vai para Requião, que naquele ano se afastou do governo para disputar a reeleição. Quem fechou as contas em 2006 foi Hermas Brandão.

Depois de Brandão, aparecem Lerner e Requião empatados, por terem empenhado em investimentos 9,4% das despesas totais de 2002 e 2005, respectivamente. Em quarto lugar, Requião de novo, com 7,76%. E, em quinto, Ratinho Júnior, pelos 7,46% de empenhos em investimento das despesas de 2021.

E aí tem a comparação favorita, que é a de valores. Corrigindo os empenhos ano a ano pelo IPCA, até dezembro de 2021, quem vence é Beto Richa, pois por esses critérios, em 2017, foram empenhados R$ 4,5 bilhões. Em segundo lugar, Ratinho Júnior, no ano passado, com R$ 4,2 bilhões. Em terceiro, Cida Borghetti, com R$ 3,9 bilhões – igual a Hermas Brandão, ela assumiu o governo em 2018, quando Richa se afastou para tentar o Senado.

A execução do orçamento público é a alma de qualquer governo – e até as eleições deste ano no Paraná, nós, as moscas, vamos debulhá-lo para vocês.

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